“O ato de publicar vai contra a hegemonia do peido cheiroso.”

Rodrigo Martins por Rodrigo Martins

 

Entrevista com Rodrigo Martins, autor de Quadratura I Quadratura II:

 

1 – Qual a história por trás de Quadratura I e II?

São imagens que buscam de diferentes formas se relacionar com uma espécie de rigidez comumente presente na estrutura rítmica da música popular (não o gênero, mas a música que possui características que dialogam com nossa intuição; dança).

Algumas imagens são mais ilustrativas, se relacionam com a ideia por uma questão formal. Já outras são consequências de ações que possuem a métrica como elemento fundamental. É uma tentativa de dar uma resposta pra algo que não fui capaz de entender por inteiro.

2 – Foi um livro difícil de ser produzido?

O conteúdo foi trabalhoso, mas não difícil, o que é comum quando fazemos algo de forma passional.Já a produção foi difícil porque a melhor opção para impressão que encontramos na época foi na China.A maneira como trabalha a impressora risograph exigiu uma atenção dobrada nesse caso. Como o zine possui imagens de diferentes naturezas, tivemos que avaliar a impressão de cada página por vez. Sorte que o chinês era o cara mais legal do mundo e teve toda paciência de mandar uma por uma via WhatsApp.

 

3 – Que possibilidades uma narrativa sem texto te impulsiona?

No caso da Quadratura, não há um anseio em passar uma ideia ou contar uma história.O que sempre me interessou na construção de imagens é a possibilidade de ampliar as formas de leitura que elas sugerem. A maneira como essa ausência de narrativa é preenchida é onde nasce a própria narrativa. Antes disso o que existe são só imagens.

 

4 – Quando você começou a pensar na construção de narrativas?

Como sempre desenhei, não sei responder essa. Acho que é natural pro jovem desenhista desenvolver narrativas. Em algum momento isso passou a ser menos importante, mas reconheço que às vezes me dá muita vontade de fazer uns desenhos pequenos que geralmente são frutos de experiências específicas.

 

5 – Quem foram os autores/artistas que você admirava à medida que crescia?

Ainda tô crescendo e meus ídolos são: Cy Twombly, Luc Tuymans, Gerhard Richter, Per Kirkeby, Michael Borremans, Eduardo Berliner, Liu Xiaodong e David Shrigley.

 

6 – Que tipo de publicações te atraem?

Falar de tipo é difícil, vou citar uma galera dos livrinhos que eu adoro: CF, Stefan Marx, Fábio Zimbres, O Divino, Igor Machado, Maíra Senise, Bia Bittencourt, Carlos Issa, Felipe Barsuglia, todos os livros da picnicanic, gostava muito quando o DEDO fazia zine, Jesse Moynihan e mais um montão. Infelizmente estou fisicamente longe da minha coleção de impressos agora, se eu lembrei desses é porque devem ser os meus tops mesmo…

 

7 – Quando você começou a se envolver com publicações e quando você começou a publicar?

Em 2012 fiz meu primeiro zine. De lá pra cá fiz mais alguns, mas todos com tiragem muito pequena.Dá trabalho mas sempre vale a pena. Felizmente notamos um recente aumento de interesse/incentivo nesse meio.

 

8- O que o ato de publicar significa pra você?

Anarquia total. De rir Jamblei. A livraria travessa é cheia de coisa boa, mas em determinada categoria é só peido cheiroso. O ato de publicar vai contra a hegemonia do peido cheiroso.

 

9 – O que é a Crack Produções?

Uma empresa de jingles.

 

10- Qual é a história por trás de Linguiça com Braço?

Que papo é esse? História por trás da linguiça? Ihhhhh….
É uma curiosa história de um garoto que não crescia horizontalmente.

 

11 – O que você faz no seu tempo livre?

O meu tempo é livre. Nele busco fazer o máximo de coisas que possibilitam que eu tenha ainda mais tempo livre, a vida é uma bola de neve. Para que isso aconteça, a mente precisa estar saudável, então também é importante tocar bateria, comer, dormir etc.

 

12 – Onde você mora?

No momento preciso voltar pro Brasil e ver onde vou morar. Não sei mesmo, mas vou passar uns dias em Santa Teresa.

 

13 – O que você tem feito? Algum projeto novo em vista?

Pintura. Muitas ideias e planos, mas não exatamente projeto.

 

14 – Por que você acha que as pessoas têm tanto medo do próprio corpo?

Eu não faço a menor ideia, mas deve ser culpa da família tradicional brasileira. Eu vou aproveitar esse espaço pra mandar um recado pra você da família tradicional brasileira: não sai daí não, cara, lá fora só tem viadaço!

 

SOBRE O ARTISTA: Rodrigo Martins nasceu em 1988 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. É graduado em desenho industrial pela PUC-Rio. Já realizou exposições individuais no Rio, Nova York e Canadá. Participou das exposições coletivas “Idolatria Vã” (Galeria Laura Marsiaj, 2013), “Figura Humana” (Caixa Cultural do Rio de Janeiro, 2014) e “Prêmio EDP” (Instituto Tomie Ohtake, 2014). Foi premiado com uma residência de dois meses no The Banff Centre (Canadá) pelo primeiro lugar no prêmio EDP do Instituto Tomie Ohtake.

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