Temporada 2, Episódio 1:
Marsha P. Johnson & Randy Wicker
Tradução de Daniel Lühmann
Transcrição do episódio
Eu sou Eric Marcus. Bem-vindes à segunda temporada de Making Gay History.
Neste episódio, você irá conhecer dois herois muito diferentes do movimento pelos direitos civis LGBTQ+. Pessoas que eu jamais esperei encontrar na mesma sala.
Desde o início dos anos 1960, Randy Wicker promoveu a ideia radical à época que homossexuais deviam ser aceitos porque eram como qualquer outra pessoa. Randy liderou o primeiro protesto público contra a discriminação dos gays em 1964, vestindo paletó e gravata.
Marsha P. Johnson era basicamente o pesadelo de relações públicas de Randy – uma autodenominada drag queen prostituta com um longo histórico de prisões e também de problemas de saúde mental, mais conhecida por seu papel na revolta de Stonewall em 1969.
Meu plano era entrevistar Randy em sua loja de luminárias art déco a apenas algumas quadras do Stonewall Inn. Mas Randy tinha outros planos. Ele sugeriu que fôssemos até seu apartamento do outro lado do Rio Hudson, em Hoboken, Nova Jérsei, onde eu também poderia falar com Marsha. Eu não fazia a menor ideia de que eles eram colegas de casa.
Quando chegamos ao modesto apartamento de Randy, Marsha estava na cozinha preparando o jantar. Depois de alguns minutos, ela entrou na sala de estar. Ela se esparramou numa cadeira feito um gato em câmera lenta e começou a revirar distraidamente sua bolsa. Uma peruca com mechas apareceu brevemente, depois desapareceu de novo e tornou a surgir uma vez mais.
Antes que eu conseguisse desembaraçar os fios dos microfones de lapela, Randy já estava falando quilômetros a cada minuto. Ele estava emanando uma energia tão nervosa que eu desejei secretamente que eles me oferecessem algo para beber que fosse mais forte do que água.
Pedi a ambos que parassem quietos um instante para eu conseguir colocar os microfones em seus colarinhos. Voltei para minha cadeira, alcancei meu gravador do outro lado da mesa de centro e comecei a gravar.
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Randy: Marsha é a única, ela é a única pessoa que todo mundo concorda que estava de fato nas revoltas de Stonewall. Tinha muitas outras pessoas lá, mas todo mundo concorda que a Marsha estava lá, então…

Marsha: O jeito que acabei indo parar no Stonewall naquela noite foi que eu estava numa festa na cidade alta. E a gente tava lá, com a Miss Sylvia Rivera e os outros tomando um drinque no parque.
Eu estava na cidade alta e só fui chegar no centro lá pelas duas da manhã, porque quando eu cheguei o negócio já estava pegando fogo. Já estava acontecendo uma batida. As revoltas já tinham começado. E eles disseram que a polícia entrou lá e deixou o lugar pegando fogo. Eles disseram que a polícia botou fogo na situação porque eles queriam originalmente que o Stonewall fechasse, por isso eles fizeram várias batidas. E aí tinha isso, a Tiffany e essa outra drag queen que costumava trabalhar lá na chapelaria, tinha também todos os barmen. E na véspera das revoltas de Stonewall começarem, antes de fecharem o bar, a gente tava tudo lá e teve que encostar na parede e eles ficaram fazendo batida na gente.
Eric: A polícia?
Marsha: Sim, eles deram uma batida em todos os corpos que apareceram lá. Porque, bom, o lugar devia estar fechado, mas eles abriram mesmo assim. Porque toda vez que a polícia vinha, o que eles faziam era tirar o dinheiro da chapelaria e do bar. Aí, quando eles ouviam dizer que a polícia estava vindo, eles pegavam todo o dinheiro e escondiam numas caixas no bar, fora do caixa. E, sabe, às vezes eles escondiam debaixo do chão ou coisa assim. Daí quando a polícia entrou só conseguiu botar a mão nas gorjetas do pessoal do bar.
Eric: Quem costumava ir ao Stonewall?
Marsha: Bom, no começo era só um bar de homens gays. E eles não deixavam entrar não, mulher não entrava. Daí começaram a deixar mulher entrar. Depois começaram a deixar as drag queens entrar. Eu fui uma das primeiras drag queens a ir lá. Porque quando a gente ficou sabendo disso… daí tinha umas drag queens que trabalhavam lá. Eles nunca prenderam ninguém no Stonewall. Eles só enquadravam a gente e diziam pra sair dali.
Randy: Você foi uma daquelas que entraram na linha de frente e saíram jogando seus saltos na polícia, tipo as meninas do Ziegfeld Folly ou as Rockettes?
Marsha: Ah não. Não, a gente tava ocupada demais virando uns carros e gritando no meio da rua, porque a gente tava tão chateada com eles fechando aquele lugar.
Eric: O que vocês estavam gritando nas ruas?
Marsha: Hein?
Eric: O que vocês disseram pra polícia?
Marsha: A gente só tava dizendo pra acabar com a brutalidade policial e que a gente já tava cheia do assédio da polícia no Village e em outros lugares. Ah, tinha vários coros que a gente fazia naquela época.
Eric: Randy, você também estava no Stonewall naquela ocasião? Você conhecia a Marsha?
Randy: Não, não, eu conheci a Marsha, quer dizer, a Marsha se mudou pra cá faz uns oito anos. Eu tinha conhecido a Marsha em 1973 como repórter da Advocate. O pessoal da GAA [Gay Activists Alliance ou Aliança de Ativistas Gays] tinha soltado ela. Foi, tipo, ah, prenderam nossa irmã gay, a Marsha Johnson, mas eles foram até o hospital psiquiátrico, enfiaram ela no elevador e saíram correndo pela porta. Agora o motivo que eles… ela estava no hospital psiquiátrico porque tinha tomado LSD e estava sentada no meio da Hudson Street ou…
Marsha: Não era LSD nada…
Randy: …puxando o sol…
Marsha: Como vocês chamam isso, hein?
Randy e Eric: Mescalina?
Marsha: Não, qual é aquele outro negócio porreta?
Randy: Bella donna?
Marsha: Não, não. Purple… paixão purple ou alguma coisa assim?
Randy: Mas enfim, ela estava sentada lá no meio puxando o sol para a terra, mas felizmente antes que o mundo acabasse e o sol atingisse a terra, o camburão de Bellevue veio e levou a Marsha embora para a ala psiquiátrica e foi assim que ela acabou ganhando uma pensão da seguridade social como caso psiquiátrico, porque eles obviamente viram, sabe, que ela tinha um histórico de prostituição desde 1962. E aí eu conheci a Marsha.
Quer dizer, quando fiz esse artigo, minha impressão da Marsha é que ela era adorável, mas, sabe, meio aloprada. Daí veio esse moço que eu conheci no Gaiety e disse… Eu perguntei se ele costumava ir ao Village. E ele: “Ah sim, eu vou pro Village e dou rolê com a Marsha.” Ele era um garoto branco bonzinho e eu disse: “Não sei, sabe, se a Marsha é o tipo de pessoa, sabe, com quem você deveria andar.”
Bom, pra encurtar a história, esse garoto virou tipo meu filho adotivo. Mas ele veio morar aqui, acho, em janeiro. E um dia… Fazia tipo dez graus e ele disse, sabe, ele disse: “Sabe, a Marsha está lá fora, ela não tem onde dormir. Ela não liga de dormir no chão. Ela não pode vir pra cá e dormir no tapete?” Aí eu falei: “Willy”, eu falei, “você tem certeza que ela não vai dar a elza na gente?” Você sabe, tipo, eu não… você sabe… E ele disse: “Não, ela não vai dar a elza na gente.”
Bom, a Marsha apareceu, acho, em 1979 ou 1980 e começou a dormir no tapete aqui. Sabe, tipo, eu passei a conhecê-la e a gostar dela, ela se tornou… E eu sou um grande fã da Marsha hoje em dia. Foi tão engraçado, porque, tipo, eu dei sermão no Willy porque a Marsha não era o tipo de pessoa certa para se envolver e dar rolê, entende.
Eric: E agora vocês vivem juntos faz oito anos.
Randy: Pois é, pois é.
Eric: Bom, e teve muita gente ferida no Stonewall naquela noite durante as revoltas?
Marsha: Eles não foram feridos no Stonewall. Eles foram feridos nas ruas, fora do Stonewall, porque as pessoas estavam jogando garrafas e a polícia estava lá com aqueles porretes e aquelas coisas, usando seus capacetes, os capacetes de manifestação.
Eric: Você ficou com medo de ser presa?
Marsha: Ah não, porque já fazia dez anos que me prendiam de tempos em tempos antes do Stonewall, eu tinha sido presa porque, originalmente, eu estava na 42nd Street. E toda vez que a gente ia, sabe, tipo, se prostituir, toda vez eles pegavam a gente e diziam que a gente tava presa.
Randy: Prostituta drag queen.
Marsha: É, eles diziam: “Todas vocês drag queens estão presas”, por isso a gente, tipo, faziam isso só porque a gente botava um pouco de maquiagem e ia pra 42nd Street.
Eric: Que tipo de pessoas você encontrava na 42nd Street quando se prostituía por lá?
Marsha: Ah, tinha todas essas queens do Harlem, do Bronx. Muitas delas já estão mortas agora. Quer dizer, eu quase nunca vejo gente daquela época. Mas eram as queens do Bronx e do Brooklyn, de Nova Jérsei, é de lá que eu venho. Eu sou de Elizabeth, Nova Jérsei.
Randy: Sabe, eu, eu… O Stonewall, eu não quero… Eu não devia começar nesse tom, mas é algo que me coloca do pior lado, porque na época que aconteceu o Stonewall eu cuidava da minha loja de broches no East Village e, com todos aqueles anos de Mattachine tinha fotos minhas na TV usando paletó e gravata, eu tinha passado dez anos da minha vida dizendo por aí que homossexuais tinham a mesma aparência que todo mundo. Que nem todos usavam maquiagem e vestido e tinham voz em falsetto e molestavam crianças e eram comunistas e essa coisa toda.
E de repente estourou a história do Stonewall e saíram notícias na imprensa de linhas de frente de queens jogando seus saltos nos policiais, tipo as Rockettes, sabe. “Nós somos as garotas do Stonewall e, sabe, foda-se a polícia.” E isso, sabe, eu achava que era como o Jesse Jackson costumava dizer, jogar pedra na janela não vai te abrir portas. Eu sentia que isso… eu estava horrorizado. Quer dizer, a única coisa que eu pensava na época é que estavam fazendo o movimento pela libertação dos gays andar pra trás uns vinte anos, porque, tipo, todos esses programas de TV e todo o trabalho que a gente tinha feito para tentar estabelecer a legitimidade do movimento gay, que nós éramos gente boa de classe média igual a todo mundo e, sabe, gente ajustada e tudo mais. E de repente aconteceu tudo isso, que eu considerava como uma gentalha. Aí eu fiz um discurso, me pediram para falar, me pediram para falar no Electric Circus, que era um grande, um grande… Marsha, você acabou de me acertar. Onde você tá indo? O que você tá fazendo?
Marsha: É a Carmen, abanando a mão lá.
Randy: Ah, ela está lá fora?
Marsha: Sim, vem cá, querida.
[Ao se levantar, Marsha se esquece do microfone, que caiu da sua camisa. Eric e Randy começam a procurar a espuma de proteção do microfone.]
Randy: Toma cuidado. Meu deus, você é tão besta.
Marsha: Você acha?
Eric: Ok, então você estava falando sobre o Stonewall…
Randy: Sim, eu estava dizendo que tinha minha loja no East Village, a loja de broches, a grande loja dos hippies, e que eu fiquei horrorizado quando isso aconteceu porque era desobediência civil. Eu vi em algum lugar uma foto do Stonewall e tinha um grande cartaz na frente feito pela Mattachine Society, que era um dos meus grupos de base. Dizia que a Mattachine Society pedia aos cidadãos que obedecessem a polícia… não que obedecessem a polícia, mas que respeitassem a lei e a ordem, que agissem de maneira lícita. Em outras palavras, a própria Mattachine era uma organização conservadora, eles tinham uma…

Eles me pediram para falar no Electric Circus e eu fui lá e disse que não achava que o jeito de conquistar aceitação pública era indo às ruas e formando linhas de frente com drag queens jogando seus saltos na polícia. E eu estava começando a falar quando um dos seguranças do Electric Circus descobriu que era uma coisa de gay, que o cara que estava falando era gay e as pessoas perto dele também, daí ele disse para um cara perto dele: “Você é um deles?” E o cara disse que sim, daí ele começou a dar uma surra nele. E essa revolta começou a acontecer no Electric Circus. Eu me lembro de levar o cara para a casa dele, porque ele tinha só vinte e um ou vinte e dois anos. E ele disse: “Tudo o que sei é que estou neste movimento faz três dias e já apanhei três vezes.” Tipo, ele estava com o olho roxo e a cara inchada.
Marsha: Ai, que horror.
Randy: …E, sabe, sem nenhum ferimento grave, mas o negócio é que se estava lidando com uma coisa nova. E isso mostra que aquilo que a minha geração fez… A gente construiu a ideologia, entende. Somos doentes? Não somos doentes? Quais são os fatos científicos? Como fomos submetidos a uma lavagem cerebral pela sociedade? A gente juntou, sabe, Lênin… tipo, Karl Marx escreveu o livro. Foi isso que a gente fez. Mas acabou literalmente tomando o Stonewall, e aqui eu era considerado o primeiro militante, um líder visionário do movimento gay, e nem consegui me dar conta quando a revolução, se você quiser chamar assim, essa coisa que eu pensava que não ia acontecer nunca, que um pequeno núcleo de pessoas se tornaria um movimento social de massa, quando isso estava acontecendo – eu fui contra. Hoje em dia fico muito feliz que o Stonewall tenha acontecido. Fico muito feliz com o modo que as coisas acabaram funcionando.
Eric: E você mencionou uma organização com a qual a Marsha estava envolvida. Como ela se chamava?
Marsha: Street Transvestite Action Revolutionaries [Revolucionárias da Ação Travesti nas Ruas] com a Miss Sylvia Rivera.
Randy: STAR.
Eric: O que era esse grupo? Por que ele foi criado?
Marsha: Ah, era um grupo para travestis.
Randy: Era um bando de…
Marsha: Travestis homens e mulheres.
Randy: Era um bando de travestis fodidas e suspeitas que viviam num barraco em algum lugar e se diziam revolucionárias. Na minha opinião era isso. Já a Marsha tem uma ideia diferente.
Eric: Qual é a sua opinião?
Marsha: As Revolucionárias da Ação Travesti nas Ruas começaram como um grupo muito bom. Foi depois do Stonewall, elas começaram na GAA. A Mama Jean DeVente, que costumava organizar todas as paradas, ela foi uma das que convenceu a Sylvia a deixar o GAA, porque a Sylvia Rivera, que era presidente da STAR, era também parte da GAA, e a começar um grupo próprio. Daí ela começou as Revolucionárias da Ação Travesti nas Ruas. Ela me perguntou se eu não queria ser vice-presidente da organização.
Randy: Elas tinham um apartamento, mas não tinham dinheiro para pagar o aluguel e começaram a brigar quanto a quem usava drogas, quem pagava o aluguel, quem pegava a maquiagem de quem. E, bom, acabou virando uma vida muito precária, a coisa ficou feia…
Marsha: Não, o prédio era do Michael Umbers, que estava na prisão. E o Michael Umbers, quando ele foi pra prisão, a cidade tomou o prédio e botou todo mundo pra fora. Mas originalmente a gente pagava aluguel pro Michael Umbers, que foi preso, e pra Bubbles Rose Lee, a Bubbles que era secretária da STAR e tinha todo tipo de coisa no prédio e tal, entende. Daí veio o pessoal da cidade e interditou o prédio.
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O sonho da STAR House era oferecer um local seguro para crianças de rua, mas essas crianças eram só um pouco mais jovens do que a Marsha e a Sylvia, que tinham vinte e poucos anos na época e ainda precisavam se prostituir para sobreviver.
Marsha morreu em julho de 1992. Seu corpo foi encontrado boiando no Rio Hudson perto dos píeres da região oeste do Greenwich Village. Ela tinha quarenta e seis anos. O legista médico da cidade de Nova York estabeleceu sua morte como suicídio, mas os amigos de Marsha acreditam que ela foi espancada até a morte ou que tenha caído acidentalmente no rio. Eles fizeram um lobby por uma nova investigação e, vinte anos depois da morte da Marsha, a procuradoria do distrito concordou em reabrir o caso.
Para saber mais sobre Marsha P. Johnson e Randy Wicker, por favor, visite makinggayhistory.com. É lá que você pode ouvir todos os nossos episódios anteriores e também encontrar fotos e outras informações extra muito interessantes sobre cada uma das pessoas que apresentamos.
Tenho algumas pessoas importantes a agradecer por tornar este podcast possível. Obrigado à nossa produtora executiva Sara Burningham, à coprodutora Jenna Weiss-Berman. Obrigado também ao nosso engenheiro de som Casey Holford, nosso webmaster Jonathan Dozier-Ezell, nosso consultor de mídias sociais Will Coley, e nosso chefe de pesquisa Zachary Seltzer. Nossa música tema foi composta por Fritz Myers.
E também um obrigado especial para Matthew Riemer e Leighton Brown, os homens por trás da conta LGBT History no Instagram, que espalharam por aí a existência do Making Gay History de maneira tão generosa. Siga-os em @LGBT_History. Eu aprendo uma coisa nova com eles a cada dia.
Making Gay History é uma coprodução da Pineapple Street Media, com assistência da divisão de arquivos e manuscritos da Biblioteca Pública de Nova York.
A segunda temporada deste podcast se tornou possível com apoio da Fundação Ford, que está na dianteira de iniciativas de mudança social no mundo todo.
E se você gostou do que ouviu, por favor, assine o Making Gay History no iTunes, Spotify, Stitcher, ou na sua plataforma de preferência de podcasts.
Até mais! Nos vemos numa próxima!
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Este episódio foi revisado em maio de 2018 para corrigir um erro que cometi na versão original, onde eu dizia que Marsha P. Johnson tinha problemas com drogas. De acordo com Randy Wicker, não era o caso.
Até mais! Nos vemos numa próxima!
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Nota do episódio
Marsha P. Johnson e Randy Wicker adotaram abordagens dramaticamente diferentes do ativismo, mas cada um deles deixou uma marca indelével no movimento pelos direitos civis LGBTQ. Para saber mais sobre cada um deles, dê uma olhada nas informações e recursos a seguir.
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Marsha P. Johnson nasceu em 24 de agosto de 1945 em Elizabeth, Nova Jérsei. Apesar de ter lutado a vida toda com transtornos mentais, a vida nas ruas, a prostituição e dúzias de prisões, Marsha se tornou uma figura adorada no movimento pelos direitos civis LGBTQ a partir da revolta de Stonewall em 1969 e durante os anos 1980, com o ACT UP.

Leia uma entrevista realizada na década de 1970 com Marsha sobre a STAR House, cofundada por ela junto com Sylvia Rivera (apresentada no episódio 01 do Making Gay History) em trecho do livro Out of the Closets: Voices of Gay Liberation, de Karla Kay e Allen Young. Este trecho foi publicado pela ativista, escritora e diretora Reina Gossett. Marsha e Sylvia idealizavam a STAR House como um refúgio para jovens LGBTQ+ que viviam nas ruas.

O prédio no Lower East Side em Nova York onde ficava a STAR House era de propriedade de Michael Umbers, uma figura do crime que se envolveu no roubo a banco que serviu como base para o filme Um dia de cão. Leia mais sobre o roubo e sobre Michael Umbers neste artigo de 1972 publicado por Arthur Bell no Village Voice.
Neste vídeo de data desconhecida publicado por Randy Wicker, veja Marsha declamando um poema para um público admirado.
Assista o trailer de “Happy Birthday, Marsha!”, um filme sobre a vida dela, incluindo as horas que antecederam a revolta de Stonewall. Leia sobre o filme no artigo de Grace Dunham publicado em 19 de novembro de 2015 na New Yorker.
O New York Times publicou um obituário muitíssimo atrasado (parte da série de obituários “negligenciados”) sobre Marsha, oferecendo uma visão geral bastante detalhada de sua vida.
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Randy Wicker foi um dos ativistas pelos direitos dos gays de maior visibilidade em Nova York durante os anos 1960. Nasceu como Charles Gervin Hayden Jr. em 1938 em Plainfield, Nova Jérsei. Quando ele contou para sua família sobre seu envolvimento com o nascente movimento pelos direitos dos gays, eles lhe pediram que mudasse de nome. Ele acabou escolhendo o Randolfe Hayden Wicker e ficou conhecido como Randy Wicker.
O ativismo de Randy Wicker começou em fins dos anos 1950, quando estudava na Universidade do Texas. Ele passou o verão de 1958 como voluntário do comitê da Mattachine Society em Nova York. De volta à Universidade do Texas, ele conduziu em 1959 uma campanha anti-censura em resposta aos “vigilantes virtuosos” que tiravam das bancas as “revistas masculinas mais picantes para salvaguardar a juventude local” e, um ano depois, foi tema de um artigo na revista Texas Ranger, publicada pela universidade.

Depois de se formar, Randy voltou para Nova York e, em 1962, formou sua própria organização, a Homosexual League of New York [Liga Homossexual de Nova York], pois se sentia limitado pela abordagem discreta demais da Mattachine Society quanto à luta pelos direitos dos gays.
Naquele mesmo ano, depois de uma rádio local de Nova York ter realizado um painel de discussão com um grupo de psiquiatras acerca da teoria da homossexualidade como doença, Randy convenceu o diretor da rádio a fazer um programa com ele e vários outros homens gays. Foi uma das primeiras (se não a primeira) conversa do tipo a ir ao ar na rádio. Você pode ler um relato desse acontecimento de referência em um artigo de Jim Burroway publicado no “The Box Turtle Bulletin” em 15 de julho de 2016.
Para ver uma imagem do relatório de andamento de 1963 da Liga de Homossexuais de Nova York tocada por Randy, que inclui recortes de jornal da grande mídia sobre o programa de rádio de 1962, clique aqui.

Em 1964, Randy ficou famoso por liderar o primeiro protesto público gay no Centro de iniciação do exército estadunidense depois que os registros de um homem gay foram violados. Um pouco antes naquele mesmo ano, Randy apareceu no programa de TV de Les Crane para responder perguntas sobre a homossexualidade.
Depois da revolta de Stonewall, Randy se juntou à Aliança de Ativistas Gays (GAA, na sigla em inglês) e, em 1972, foi coautor de Gay Crusaders, junto com Kay “Tobin” Lahusen (apresentada no episódio 09 do Making Gay History junto com sua companheira Barbara Gittings).
Para ler uma entrevista com Randy sobre sua vida, publicada em 25 de janeiro de 2007 no Dallas Voice, clique aqui. Para obter uma biografia mais contemporânea dele, clique aqui.
Temporada 2, Episódio 1: Marsha P. Johnson & Randy Wicker é uma cortesia do Making Gay History. Encontre o podcast Making Gay History em todas as principais plataformas de podcast e em www.makinggayhistory.com.