Making Gay History

Temporada 6, Episódio 3: Barbara Smith

Tradução de Daniel Lühmann

 

Barbara Smith, Albany, Nova York, agosto de 1987. Crédito: Foto de Robert Giard © Jonathan Silin, cortesia da coleção Miriam e Ira D. Wallach de arte, impressos e fotografias, Biblioteca Pública de Nova York.

 

Transcrição do episódio

Narração de Eric Marcus: Eu sou Eric Marcus e este é o Making Gay History!

Barbara Smith nunca foi uma ativista de uma ocasião só. Ao longo de toda sua vida, ela pediu justiça e dignidade para pessoas cujas vozes não são ouvidas. Foi assim que ela foi criada.

Barbara e sua irmã gêmea, Beverly, nasceram em 1946 em Cleveland, Ohio. Foi lá que a família se instalou depois de deixar uma cidade pequena na Georgia, no sul de Jim Crow. A mãe delas, Hilda, primeira pessoa da família a se formar na faculdade, morreu quando elas tinham nove anos. A partir daí, as irmãs foram criadas por uma família estendida, em um lar de mulheres que davam grande importância à educação.

Em meados dos anos 1960, Barbara frequentou a Mount Holyoke, uma faculdade só para mulheres onde depois se lembraria estar cercada por “correntes lésbicas subterrâneas que não eram ditas”. Na época, Barbara não tinha conhecimento de nenhum esforço voltado para os direitos gays e, embora seus sentimentos por mulheres não fossem nenhuma novidade, ela só viria a sair do armário em meados dos anos 1970.

Em 1974, Barbara cofundou o Combahee River Collective, um grupo organizado por lésbicas feministas negras dedicado à luta contra “opressão racial, sexual, heterossexual e de classe”. Em 1980, Barbara e Audre Lorde – que descreve a si mesma como guerreira negra lésbica feminista mãe poeta – fundaram juntas a Kitchen Table: Women of Color Press. A iniciativa era tocada por e para mulheres de cor cujos escritos têm fôlego curto na indústria editorial mainstream.

Na época que entrevistei Barbara, ela já vinha contando umas verdades ao poder há décadas – como mulher contra a misoginia, como afro-americana contra o racismo, como lésbica contra a homofobia e como lésbica negra contra aquelas pessoas do movimento pelos direitos dos gays que deixavam de lado as questões de pessoas LGBTQ de cor.
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A psicanálise de Edward a Sapatão

Judy Grahn: A psicanálise de Edward a Sapatão

tradução de Angélica Freitas

 

Atrás da porta marrom que ostentava as letras douradas do nome do Dr.
Merlin Knox, Edward a Sapatão estava deitada no sofá do médico, que era
tão luxuoso e comprido que seus pés nem chegavam a ficar pendurados da
beirada.

“Dr. Knox”, Edward começou, “meu problema esta semana tem a ver
principalmente com banheiros públicos”.

“Aahh”, suspirou o bom médico. Seriamente, fez um esboço rápido de um
banheiro em seu caderno.

“Naturalmente, não posso entrar em banheiros masculinos sem me sentir
uma intrusa, mas, por outro lado, toda vez que tento usar o banheiro das
mulheres eu me meto em problemas.”

“Hmmm”, disse o Dr. Knox, fazendo um esboço rápido de uma porta com a
inscrição “Mulheres”.

“Quatro dias atrás eu entrei no banheiro de um shopping e três donas de
casa de meia idade entraram e pensaram que eu era um homem. Assim que
expliquei a elas que eu era apenas uma sapatão inofensiva, o problema
começou…”
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Publicando zines para presos: uma entrevista com Anthony Rayson

PUBLICANDO ZINES PARA PRESOS:

UMA ENTREVISTA COM ANTHONY RAYSON

[A zine publicada em 2015, traduzida para o português por Daniel Lühmann, nos foi cedida gentilmente por Anthony Rayson e o Temporary Services.]

 

 

 

Anthony Rayson é responsável pelo South Chicago ABC Zine1ABC é a sigla para Anarchist Black Cross [Cruz Negra Anarquista]. Ilustrações da capa: Hon. Mark A. Reid Bey, 2008 (capa); McKeehan, 2011 (contracapa).Durante boa parte do tempo nas últimas quatro décadas ele vem se dedicando a suas publicações independentes. Rayson, hoje com sessenta anos, entrou na política bem cedo, por ser filho de Leland Rayson, representante do estado de Illinois por doze anos, de 1965-77. Quando criança, Rayson sempre participou de manifestações, comícios e outros eventos políticos, além de ajudar nas campanhas e eventos de seu pai. Durante a época do Vietnã, a mãe de Rayson fez parte da organização Women for Peace [Mulheres pela paz]. Em seu primeiro ano no colegial, Rayson se juntou a uma campanha da qual a namorada de seu irmão fazia parte para reivindicar que mulheres pudessem usar calças para ir à escola em vez de apenas vestidos e saias. Nos invernos congelantes abaixo de zero de Chicago, isso não é pouca coisa.
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Livreiros #5: Asa Norte e Sul

“O Chiquinho tá fechado hoje?”
“Não, ele tá abrindo mais tarde. Mas ele abre! Ontem ele abriu às 11h”
“Tá ok, muito obrigada!”

Estamos retomando um projeto que temos muito carinho por aqui, o “Livreiros”.

Partindo de conversas com donos de sebo, livreiros autônomos e vendedores ambulantes de livros que trabalham pelas ruas do país, vamos aos poucos fazendo um mapeamento da atividade livreira e das pessoas por trás dessas geografias de troca, desses espaços de cultura e diálogo que têm como principal atuação a venda de livros.
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Livreiros #2: Edifício Maletta

Entre a Avenida Augusto de Lima e a Rua da Bahia, no centro de Belo Horizonte, está o Conjunto Arcangelo Maletta, ou simplesmente Edifício Maletta, construído em 1957 no local onde antes se encontrava o Grande Hotel de Belo Horizonte. Misto de edifício comercial e residencial, o Maletta é um prédio multifuncional que em seus 59 anos de história já abrigou estudantes, movimentos culturais, já foi o refúgio de intelectuais durante a ditadura militar, já se tornou célebre e frequentado, e nos últimos seis anos tem passado por uma transformação, atraindo um público mais jovem para a sua sobreloja e suas varandas cheias de bares e restaurantes.

O Maletta é um velho conhecido de quem mora em Belo Horizonte, e também de quem respira arte impressa na cidade – já foi palco de feiras de publicação, como por exemplo a Feira Elástica, organizada pelos amigos da Polvilho Edições e do coletivo A Zica, além de abrigar o ateliê 4y25, espaço de trabalho autogerido voltado para a arte independente, na sua sobreloja. O prédio possui também a maior concentração de sebos e livrarias de Belo Horizonte – são 22 estabelecimentos onde são vendidos livros, enciclopédias, revistas, jornais, quadrinhos, discos, CD’s, toca-discos e o que mais o cliente quiser –, se tiver disposição para procurar, o Maletta é o lugar para encontrar. A maior parte dos sebos se encontra na sobreloja, enquanto alguns poucos (três sebos) estão localizados em outros andares do prédio, espalhados entre escritórios de advocacia, consultórios e salas de técnicos de informática e eletrônica.

 

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Livreiros #1: Estação Carioca

“Você tem algum livro de autoajuda?”
“Alguma outra coisa do Deleuze e Guattari?”
“Esse livro foi psicografado? Você tem outros livros psicografados?”
“Vocês tem o ‘Cabeça de Porco’? Só pode ser esse, procuro um livro chamado ‘Cabeça de Porco’…”

Imagine um lugar onde todas as frases acima são válidas e cabíveis. Um lugar onde se consegue agrupar uma série de interesses variados, uma fonte de pesquisa literária que vai das Ciências Sociais às Ciências Exatas, passando pelas Jurídicas e pelas Artes. Pensou numa livraria? Não poderíamos estar mais distantes. O espaço em questão é o comércio de livros que fica bem na Estação Carioca do metrô, em um corredor entre o Edifício Avenida Central e a Caixa Cultural.

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